Felicidades me vêm rápido e assim também se vão
Tudo está tão só, só de passagem
Hoje foi tudo o mais do mesmo...
A não ser pelo que contabilizo, e que para mim o mundo girou
Em todos os ciclos os mesmos anseios (e eu nunca sei de onde vem tanto medo)
Acalentam-me as lembranças de um menino de cinco, uns vinte e cinco anos atrás
Cujo a sua senhora de trinta e cinco falava sobre os seus passos nos seringais
Os cheiros que ainda marcam, sobretudo a nicotina (o lobo mau da tabatinga), essa um tanto mais
Nossa varanda de cerâmica amarela, o banco improvisado na escada
Pouco diálogo entre o adulto e o menino antes do(s) Jornal(is) Nacional(is)
O encaminho natural para o duro sofá de madeira e almofadas de onça entre arranjos florais
Ali a gente se abraçava pra acompanhar suas telenovelas e levantava para tomar água entre os comerciais
Da nossa varanda avistávamos os pontos cardeais, a constelação das três marias que nunca pude decifrar
Naquela varanda as promessas de verrugas nos dedos para cada estrela que eu pude apontar
E o que seria do meu texto de passagem senão o pretexto pras lamúrias de alguém com mais de trinta a se fundamentar?
Não elenco nunca um sonho, nada pra me perpetuar, mas...
Que Deus, as forças do universo, os meus orixás... Todos me prevejam em cada letra das palavras que eu arranjar, as que eu materializo e as volatilmente absortas no tempo
Que por um sinal eu me sinta perdoado pela dor, ardor, torpor na vida de cada semelhante que cruzei ou passarei, retomarei...
Que trinta é o bastante, e o montante de felicidade até aqui é o suficiente para já
E se a vida ainda existirá, a isenção de tanta culpa, que já é tempo de se libertar...
E que nas noites antes de deitar, ainda dobre sobre os joelhos, pela entrega da humildade, sobretudo pelos anseios àqueles que desejo o bem-estar