segunda-feira, 26 de julho de 2021

Demoro a fechar janelas
porque me dói
a vida entre dentro e fora.
 
Meu gesto lento,
sem antes nem depois,
desconhece se abre ou se fecha
a janela de uma outra janela.
 
Sem longe nem perto,
entre sombra e além,
na casa onde meu corpo começa,
sou eu mesmo a terra que contemplo.
 
Depois do vidro,
perdida da sua própria imagem,
a paisagem ainda mora toda em mim.
E eu, já, nela.

Mia Couto

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